quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Fantasminha 40 nada camarada

O poder no Brasil tem forte tendência, historicamente, a ser cíclico. As tentativas de transformações foram poucas, na perspectiva da ruptura de uma hegemonia de um direcionamento político e, considerando iniciativas sempre louváveis de iniciativa popular, aquelas que se mantiveram ao lado do povo são raras, quando existentes.

Nos diferentes níveis de poder, no pós-Constitucionalismo, dificilmente cidades possuíram a mesma escala de poder e o mesmo grupo de poder - não necessariamente chapas puras, de frentes únicas partidárias - a frente da cidade, do Estado e do país; se não me engano deve ter acontecido na capital paulista durante o período FHC (PSDB) e, mais recentemente, na capital cearense durante o período Lula (PT-PSB). A segunda, visivelmente, veio em vitória sobre a primeira, como uma esperança em uma resposta e uma alternativa àquele modelo que se cristalizava.

Oito anos depois e essa segunda passagem de uma hegemonia de poder é colocada em disputa. Irônica, oportuna e politicamente, o bloco que se consolidara no Ceará demonstrou sua maior fraqueza, a falsidade da união, e contraditoriamente ambos os blocos de poder, a seu modo e no seu canto, buscam uma mesma identidade. Sim, identificada com o Pai Amado, o Odorico Paraguassu da vida real, aliando a isso a figura feminina, menos carismática, menos poderosa, mas aquela que atualmente manda no final das contas, tirando o coelho da cartola: a Mônica que o Maurício de Souza não criou.

Parecendo a terra da Turma da Mônica, Fortaleza tem possuído muitos colegas da dentucinha com força e coelhinho potentes. Uma série de agregados tentam fazer parte dessa turma, quando na verdade se associam ao criador dela, o Pai Amado. Um desses personagens que tem tentado criar esse perfil na capital alencarina é branco, baixinho, reluzente e aparentemente (repito, aparentemente) não faz nenhuma maldade, mas costuma sair para dar alguns sustos. Amigo do Ceifador Sinistro, o Penadinho é a representação daquela transformação maior que a morte no cotidiano da política brasileira: a metamorfose do socialista(?) 40.

Sob a liderança da Dona Morte, o nosso fantasminha Penadinho, que aparecera no cemitério... ops! cenário local para uma maior quantidade de pessoas no cemitério legislativo, que, por sinal, chegou a comandar. Nesse ínterim, andou aprontando muito, dando não somente sustos, mas verdadeiros sinais de crueldade do além: edificou violações a direitos humanos! Nesse celeiro, é improvável chamar o fantasminha de desalmado, porém a questão não é de espiritualidade, é de direcionamento político mesmo.

Na entrada do ano olímpico, o fantasminha nada camarada, junto com Dona Morte e seus colegas, quiseram se organizar e criaram um ato chamado Atitude. Atitude que culminou no lançamento de sua candidatura à Prefeitura de Fortaleza, sob os auspícios, signos e feitos por ela, que tem governado o Ceará há algum tempo. Parece que o fantasminha quer se parecer com a própria mestre!

No entanto, em meio às aspirações de Penadinho para a Terra da Luz, suas condições objetivas são e estão concretas, não tão bem claras mas de forma efetivamente material, no mundo real. Não é fantasia suas ações, nem seus sustos. Não estão no purgatório as suas chances de assombrar, nos próximos quatro anos, a vida de muita gente.

Não basta apenas acender vela de sete dias e fazer a brincadeira do copo para evitar novas surpresas, os puxões nos dedos dos pés e andar na escuridão, porque Penadinho quer ser da Turma da Mônica: quer sua força e seu coelho junto com ele.

domingo, 12 de agosto de 2012

Pai Amado, Filho Mimado(?)

Década de 1970, novidades consideradas incríveis à época surgiam na vida de muitas, muitas pessoas. A presença da televisão na sala de pessoas que podiam tê-la traziam o boom da tecnologia de então: as cores. Os matizes que faziam enxergar melhor as feições, o brilho e o contraste dos rostos e corpos das pessoas, das paisagens, dos horizontes. Foi nesse período, também, que um mítico personagem ganha relevo; igualmente, um homem, da classe trabalhadora, auspicia incomodar o patronato - e o regime militar, de alguma forma.

Os anos passaram e no século XXI aquele personagem que antes incomodara as classes dirigentes, atualmente, se não faz parte dela ao menos não incomoda tanto assim, aprendeu a dialogar sob o idioma delas. Duas vezes presidente da república, aperfeiçoou-se no fazer política e mudando os tons, antes agressivos, agora consegue ser o centro das atenções e da mídia, para o bem, para o mal; pegou no microfone, todos querem estar ao seu lado: no palanque, na televisão, na rua, no hospital...

Em 2012, este dilectus pater da política brasileira vem fomentando muitos filhos país afora, aqueles que são realmente de seu sangue partidário ou não, porque o papai é bom e no seu abraço cabe (quase) todo mundo. Na capital cearense, então...

O filho de sangue do Pai Amado usa a estrela vermelha do número 13, mas parece muito com aquela história de um mimado que fora reconhecido às vésperas do nascimento, sabe como é? Do dia para a noite, papai e filhinho estavam juntos, para todas as pessoas saberem: são retratos, são conversas, são relatos, são discursos, tudo isso o filho querendo demonstrar como o seu pai é bom, é legal e faz parte da família dele... ou melhor, que ele, o filho, faz parte da família do pai, o Amado. É um filho com pai, sem mãe, sem padrinhos e a madrinha, que existe, nem aparece tanto assim. A madrinha está com dívida na bodega.

Se a novela mostrar mais capítulos, talvez possa fazer revelar que tal filho é um advogado e que já compusera uma assessoria popular da área, inclusive estando junto a um grande movimento social brasileiro, mas o roteiro não mostra com tanta precisão as contradições, suficientes para questionar, por exemplo, qual a relevância, a importância e o alcance da participação deste personagem naquelas esferas de atuação e intervenção - porque nem ele costuma falar a respeito, então...

A quem não conhecer nem uma história, nem outra, fica a impressão de que Lula fora Odorico, o Bem Amado (sim, o da novela, daquela novela épica!). E este número 13 em Fortaleza, quem é?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O palimpsesto 25?

Os papiros foram escritos na história há um certo tempo atrás e, neles, alguns eventos foram retratados e conhecidos até hoje. Deles as informações alcançaram milhas e milhas, quilômetros e quilômetros, revestindo muitos dos recantos com aquilo que descrevia e remetia alhures. Os tempos mudaram, novos meandros foram conquistados, a sociedade amadureceu e novas histórias e geografias foram redigidas.

Estamos no Estado do Ceará e a história que fora escrita, com o Constitucionalismo, é a emergência de um grupo político o qual se apresentava como mudança. Ascensão de uma nova classe dirigente, sob o regime democrático, nos auspícios da política local criavam a envergadura de uma novidade frente ao passado recente, remetido aos coronéis - inclusive de alcance e investidura regional. Os discursos e práticas de fortalecimento e desenvolvimento econômico e controle social foram tão executados que uma figura em particular, desde esse período, assumira conotações e representações em torno de uma personagem e contra uma situação que, a grosso modo, poderia ser resumida na frase "contra bandidagem, temos que dar voz e vez à força de polícia".

Uma frase escrita no tempo e no espaço reverbera ao passar dos anos. Em espaços de disputa, a frase se tornou slogan e a personagem, condição sine qua non nos confrontos. Com força e virilidade, praticamente sempre saiu derrotado em disputas proporcionais a uma função no espaço com direito a uma ou duas vagas; logrou êxito em algumas chances, sim, e tais oportunidades são reverenciadas como experiências marcantes e fundamentais em conflitos e espaços de disputa mais recentes; tudo em nome da ordem, da moral e do controle social. Curiosamente, na atual composição política e no seio dos embates ora em acontecimento, há algo de diferente. Não apenas a mudança de siglas, de PFL para DEM.

Aquele homem, rude, viril, conservador em sua natureza social, ideológica e política, reaparece após um recolhimento mais manso, suave, holístico e dialogando com esforço em ser abrangente e sociável; aquele homem que antes parecia o dono da bola ou o dono da quermesse agora retorna aparentando ser o time de fora ou o penetra da festa querendo tête-à-tête socializar simpatia; aquele que fizera carreira atentando contra a vida surge renovado orando em favor da vida. É, no mínimo, de se estranhar tamanhas mudanças, porquanto tamanhas rupturas.

A história é escrita e suas linhas permanecem cravadas no tempo; a geografia é experimentada e suas vivências cravadas no espaço. Os papiros são realmente palimpsestos¹ reciclados ou as letras estão dispostas em papel couché reescrevendo uma nova história?

Há quem acredite, mas há, principalmente, quem duvide. Atenção: tensione.

¹ Manuscrito em pergaminho que os copistas na Idade Média apagaram, para nele escrever de novo, e cujos caracteres primitivos a arte moderna não conseguiu fazer reaparecer.

domingo, 5 de agosto de 2012

Eleições 2012: um pequeno perfil municipal

Em mais uma proposta de postagens temáticas (e também em virtude das seguidas provocações que me acometeram nos debates eleitorais transmitidos em canais de televisão), o Blog do Silveir4 se proporá a fazer, de modo sintético e em uma avaliação um tanto pessoal, uma leitura de perfil daquilo que se reverbera em Fortaleza a partir de seus candidatos ao Paço Municipal.

Para isso, será pano de fundo da análise a ser colocada neste espaço aquilo que se visualizou nos dois debates dos três que já aconteceram (TV O Povo, TV União e TV Jangadeiro). O foco será nos dois últimos.

Leitores e leitoras, atentemos para aquilo que está acontecendo na cidade: ocorre durante três meses e se perde por longos quatro anos, na insumidade maioria dos casos; atentemos para quem será o escolhido - ou que tenhamos a opção de não escolher ninguém (porque voto nulo também é votar e também é escolher, pela negação ao que está posto); atentemos, enfim, para as coerências do incoerente para fazermos nossas escolhas. Tentaremos contribuir um pouco com o debate.

Até lá.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Maniqueísmo (nada) surpreendente

A vida é tão efêmera, mas ao mesmo tempo tão abstrata que algumas possibilidades de vivê-la plenamente são paradoxalmente negadas, paradoxalmente reprimidas, ao mesmo tempo que torna-se capaz de contraditoriamente surpreender, contraditoriamente renovar as esperanças.

Em situações bastante peculiares, sentimos o pulsar da vida no peito de tal forma que o coração sofre espasmos para além de sua comum função. É a adrenalina, é a emoção, é a tenra sensação de uma avalanche que o corpo tenta controlar e disfarçar, mas o espírito não nega e às vezes emana ao mundo real. Há quem chame de frio na barriga, de borboletas no estômago ou a falta de ar que não dá agonia. Há quem sinta em partida de futebol, em apresentação artística ou científica ou nos momentos do amor.

Talvez ao mesmo tempo ou então em outros momentos, sentimos a angústia das relações se realizando de maneira que a multidão se torna solidão, os cânticos ficam mudos e silenciosos e a música ao invés de sorrir e dar prazer, chora e dá alfinetadas. O relicário imenso transcende em terços infinitos que do diverso constroi o caminho único. Há quem chame isso de depressão, de infelicidade, de frescura. Há quem sinta de modo a calar, a chorar, a gritar, a bater, a correr, a beber.

Ao passo de toda essa noção e em meio a tamanhas circunstâncias, o mais importante é saber conviver com os momentos. Com ambos os momentos. Com cada momento. Usufruir da experiência de ter passado oportunidades anteriores em cada fase, em cada disritmia, para o bem, para o mal, é um destino que se consagra no avançar da caminhada. Como a esperança não pode nunca deixar de existir, as vias se transformam para o começo-meio-e-fim não linear se realizar: o caminho da vida.

Para não negar, para não reprimir, para surpreender e para renovar as esperanças, as pedras que estão no caminho, como poetizou Drummond, tem que ser retiradas.

Se em seu caminho não há quem queira lhe seguir, faça como faria com as pedras: tire-as do caminho. No bolso, no coração, na lata do lixo, na semeadura da indiferença ou ao relento do desprezo, aí a opção é de cada um. Qual será a de nosso caminho? Não queira descobrir.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Afinal, cadê as moedas de um centavo?

Talvez assim como as moedas de um centavo, este texto não ganhe tanta repercussão por discutir algo sem tanto valor assim. Se por um lado o texto realmente não alcance o status quo de grandes e muitos leitores, qualificar assim as moedas de menor unidade monetária brasileira é de enorme iniquidade.

Pois bem, desde que me entendo por pessoa consciente do mundo onde moramos, as unidades monetárias do país contemplaram unidades de valor pequenas, para completar pequenas transações comerciais ou a satisfação do mínimo possível ao consumo mediado pelo dinheiro: as moedas de 50, 10, cinco e um centavo, seja ela de cruzado, cruzeiro, cruzeiro real e real. Neste último caso, com a implantação de outras unidades na confecção de moedas, notadamente a moedinha de 25 centavos e no início do Plano Real (quando 10 reais era "dinheirão" e rendia um monte), qualquer trocado era milhão. Com isso, cada centavinho em um produto, serviço ou tarifa que fosse gasto era um vintém a mais no bolso e nas contas bancárias. Surgia a era dos preços trocados: em Fortaleza, desde a passagem de ônibus, que no fim dos anos 1990 e começo dos anos 2000 - quando a inteira tinha valores de R$ 0,72, R$ 0,80, ou até mesmo R$ 1,16 - até ao quilo de arroz, com seus valores fracionados.

Adiantando o tempo e alcançamos a era dos preço único: tudo por R$ 1,99. Formalizava o custo com uma nota de real, criada depois de algum período de duração do Real, para bugingangas quaisquer, geralmente consumidas nos mercados popular e ambulante. Se no caso acima citado os valores fracionados demandavam maior troco de trocados, para esse caso o retorno se daria com apenas uma moeda, a moeda de um centavo.

A pergunta, então, surge: afinal, cadê as moedas de um centavo?

Remontemos a 2009 para uma primeira consideração. Belém, época do Fórum Social Mundial e uma promoção incrível para o retorno da utilização da moeda de um centavo: um bar vendendo cervejas em lata a um centavo (para quem pagasse o ingresso para adentrá-lo por R$ 15,00) e, entre algumas diretrizes, tinha a obrigatoriedade de comprar a cerveja com a moeda de um centavo e comprar apenas uma cerveja por vez. Fantástico! No entanto, não deu para entrar no local e decidimos consumir o dinheiro fora, comprando uma cerveja a quatro reais. Detalhe: tínhamos quatro reais em moedas de um centavo. No mesmo bar, após pedirmos a conta por essa cerveja, a garçonete se recusou a receber nosso saquinho de dinheiro - a gerente foi chamada e conosco contou as moedas e as aceitou. 2012 e realizo uma compra em um supermercado cujo valor total deu R$ 23,03 e eu paguei com R$ 25,00. Adivinhem o que aconteceu: perdi R$ 0,97 no troco, ou seja, quase-que-praticamente um real!

Não seria isso um choro de um miserável, mas observemos: se eu perdi brincando noventa e sete centavos em um simples troco, quantos milhões de reais essa rede de supermercados adquire nesses trocos arredondados para menos de milhares de pessoas? Por dia!

A pergunta, então, retorna: afinal, cadê as nossas moedas de um centavo?

Real e definitivamente, qualquer trocado vale milhão.

domingo, 17 de junho de 2012

Cantando primaveras

Em alusão a um aniversário, o meu, e oferecido às pessoas queridas.

Mesmo não sendo uma estação do ano, fecha-se mais um ciclo para mais uma primavera que busca florescer novas searas, novos horizontes. Em solo cada vez mais carente de cuidado, trabalhá-lo tornará mais uma florada eficiente e feliz, em novos ritmos e expandindo a paisagem.

Vigésima sétima flor que entra em trabalho de abrir-se ao mundo e revelar-se solenemente, as vinte e seis flores - que não são de plástico, Titãs - acumulam um mix paradoxal de cansaço e renovação, sobriedade e juventude, brilho que novamente é incandiado por um momento pleno: o abrir de mais uma flor.

Desta (mais uma) vez, não houveram tantos jardineiros e floricultoras a cultivar este momento, mas que de alguma forma irrigaram a semeadura, mesmo que de longe, de tantos recantos da cidade, do Estado, do país, a qual fora realizada e contemplada por quatro floricultoras e dois jardineiros, ficando uma delas e um deles da concepção ao fato. Desta (mais uma) vez, todo o ambiente renovava o fluxo de energia necessário e revigorante para o fenômeno: a energia do combustível à alegria da concepção aliada ao clima musical do fato e do momento.

Depois de abrir-se mais uma flor ao mundo, emanando seu perfume que (espera-se) envolva e abranja outras flores e abelhas e donzelas queridas, apresentando sua beleza que (tomara) não esconda a sua verdadeira essência e, principalmente, que sua energia contagie as vinte e seis flores já abertas para o jardim da vida e deixar toda a árvore bonita, frondosa e querida.

Que as floricultoras e os jardineiros se aproximem e que não se afastem, porque, juntos, cantando para o mundo todos terão seus frutos!